ACORDAR À NOITE PARA URINAR
A necessidade de acordar à noite para urinar é um sintoma freqüente em homens e mulheres de todas as idades. O termo médico que designa este sintoma é nictúria ou noctúria. Trata-se de um dos sintomas urinários mais incômodos para os pacientes, independentemente da causa, pois provoca alterações do sono como insônia ou sono fragmentado. Como é sabido, dormir bem é fundamental para um perfeito desempenho físico e mental. Quando isto não ocorre, pode haver importantes repercussões como irritabilidade, fadiga, sonolência diurna, depressão, déficit de concentração e outros. Além disso, a(o) parceira(o) do(a) paciente com noctúria também sofre, pois seu sono também é afetado.
Outro aspecto muito importante da noctúria é que ela está associada a maior risco de complicações como quedas, fraturas ósseas e até mortalidade. Estudos demonstraram que a noctúria aumenta o risco de quedas em pessoas de idade avançada, provavelmente porque os idosos levantam-se sonolentos e em condições de baixa luminosidade. A fadiga diurna também pode contribuir para alterações do equilíbrio. As quedas podem ser causa de incapacidade e de internação hospitalar, produzindo substancial deterioração funcional e social. Por fim, foi sugerido que levantar à noite mais de 3 vezes para urinar proporciona aumento do risco de mortalidade.
A prevalência da noctúria depende de como a definimos. Na maioria dos estudos, considera-se noctúria como a necessidade de acordar à noite para urinar ao menos 2 vezes. Com esta definição, estima-se que 10 a 15% da população apresentem o sintoma. Se a definirmos como acordar ao menos uma vez, os números são bem mais elevados, estimando-se que 30% dos homens de 45 anos tenham noctúria e 80% dos homens de 80 anos, demonstrando-se evidente importância da idade na sua prevalência.
Vários fatores podem contribuir para a ocorrência da noctúria, como o aumento da produção de urina (poliúria), a apnéia do sono e doenças renais ou cardiovasculares. Além disso, o uso de medicamentos como diuréticos pode afetar a produção noturna de urina.
A produção excessiva de urina (poliúria) pode ocorrer durante as 24 horas do dia ou ser um fenômeno observado somente durante a noite, que é denominado poliúria noturna. A principal causa de poliúria é o diabetes. A poliúria noturna é o principal distúrbio encontrado em homens com noctúria. Em adultos jovens, a produção noturna de urina é geralmente menor do que 22-25% do total de urina produzido nas 24 horas. Por outro lado, pessoas com idade avançada apresentam alteração deste padrão, e passam a eliminar até 50% da urina no período noturno. Uma das principais razões para isto é a diminuição da produção do hormônio anti-diurético, responsável por aumentar a concentração da urina, diminuindo o volume urinado. Outras circunstâncias em que pode ocorre poliúria noturna são insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, apnéia do sono e doenças renais.
Em homens, a noctúria pode estar associada ao crescimento benigno da próstata (hiperplasia prostática benigna – HPB). Nesta circunstâncias, a bexiga pode apresentar redução de sua capacidade e predispor o paciente a urinar com maior freqüência tanto durante o dia como à noite. Outras condições que afetam a capacidade vesical como a bexiga hiperativa, cistite intersticial e várias formas de bexiga neurogênica podem levar homens e mulheres a apresentar noctúria.
Como e quando tratar a noctúria? Apesar do impacto negativo que a noctúria pode apresentar na saúde e na qualidade de vida de seus portadores, muitos pacientes convivem com o problema sem procurar auxílio médico. O tratamento da noctúria é geralmente eficaz, mas depende da sua causa e por isso deve ser individualizado. Pode incluir medidas comportamentais, como a adequação da quantidade de líquidos ingeridos, mudança do horário de administração de medicamentos (como diuréticos), tratamento de problemas como diabetes descompensado ou insuficiência cardíaca e tratamento específico para problemas de próstata e bexiga.
A desmopressina (DDAVP) é um análogo sintético da vasopressina, apresentando os efeitos do hormônio anti-diurético sem apresentar efeitos vasopressores. Sua ação anti-diurética é resultante de sua ligação aos receptores V2 nos ductos coletores renais, determinando maior absorção de água. Estudos controlados demonstraram que tanto a administração oral como através de spray nasal da desmopressina são capazes de promover significativa redução da poliúria e consequentemente do número de micções noturnas. O aumento médio do período de sono não interrompido com o uso da desmopressina foi de 2 horas.
Devido ao efeito antidiurético do medicamento, até 15% dos pacientes podem desenvolver um distúrbio chamado hiponatremia, que não tem relevância clínica na maioria dos casos. Em apenas 5% dos pacientes a hiponatremia tem repercussão clínica, manifestando-se com cefaléia, náusea, vômitos, fadiga, tontura ou ataxia. Embora possa ocorrer em pacientes de todas as idades, aqueles mais de 65 anos e, principalmente, os pacientes com sódio sérico baixo antes do início do tratamento requerem maior atenção. O período mais crítico para o aparecimento da hiponatremia é nas primeiras semanas de tratamento, mas pode haver casos mais tardios. Assim, recomenda-se a dosagem sérica de sódio após 3 dias da introdução do medicamento e a cada aumento da dose. Outras dosagens periódicas devem ser realizadas conforme os resultados laboratoriais e sintomas do paciente.